Em criança, sempre tive imensos carrinhos. Não que eu gostasse de carros – não sei mudar um pneu – mas, por ser rapaz, recebia muitos. Eu acho que quando se gosta de alguma coisa, tudo consegue ser canalizado para essa coisa. Eu adoro futebol! Aliás, 30 anos volvidos, podem-me dizer que eu tenho imenso jeito para escrever, para inventar histórias, para línguas, o que for. O balanço está feito: a coisa que eu mais gosto na vida é de futebol!
Voltemos à história. O campo era geralmente improvisado numa alcatifa: dois livros de lombada fina a servir de baliza; um berlinde a fazer de bola; e os respectivos jogadores, que obedeciam a regras específicas:
- Os carros de competição eram guarda-redes;
- Os de carroçaria grande iam para a ala;
- Tractores como centrais;
- Os de cor escura eram destros, os de cor clara esquerdinos;
- As carrinhas de caixa aberta avançados;
- Os utilitários médios;
E assim se construíam as equipas. Só eu é que jogava, é certo, mas posso-vos dizer que me chegava a perder naquela fantasia. Acaba por se tornar interessante na medida em que tentava fazer do inventado real, cumprindo as regras que tinha estabelecido. Apesar das voltas que a minha cabeça dava, conseguia ter alguns momentos de prazer. (Uma vez estava tão mergulhado naquilo, que estraguei uma tarte que a minha tia tinha acabado de fazer. Deu choradeira, eu sei, mas também tomavam-me por maluco se eu explicasse a razão. Aguentei a bronca)
Outra das brincadeiras que inventei era feita no terraço, com uma bola vermelha. Para se aceder ao terraço tinha(e tem) de se atravessar uma porta de correr. Mais uma baliza! Como guarda-redes colocava um estendal de plástico. Com ambos os pés tentava marcar golo, com um extra – bónus: se conseguisse colocar a bola no espaço compreendido entre a máquina de lavar e a parede valia 2 pontos! O vizinho de cima, Moreira, observava-me por diversas vezes!
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