Quarta-feira, 17 de Março de 2010
A TAP
É uma companhia aérea que todos os anos apresenta contas de prejuízo. A TAP, por outro lado, é reconhecida e louvada pela qualidade dos seus profissionais e pelo óptimo serviço prestado aos seus clientes. Como tal, há algo de errado nesta equação.
Na minha opinião a TAP não poderá subsistir como empresa pública. Está visto que não há solução possível, por muito bons que sejam os gestores, as optimizações de custo e de pessoal. Para mim, a resolução deste problema aparece, em primeira mão, pelo cancelamento do projecto do TGV. A prioridade no transporte de passageiros deve ser aérea, e há potencialidades para isso através da criação de bases aéreas por todo o país, e não pelos carris, mais direccionado para o transporte de mercadorias.
A TAP só poderá ser viável através de um modelo público – privado de exploração de “low costs” de Portugal e Espanha. Mudando as suas rotas preferencialmente para destinos de curta duração, a frota da TAP deverá ser mais económica, aproveitando-se as necessidades de deslocação dos responsáveis das pequenas e medias empresas, que naturalmente tem conexões privilegiadas com Espanha. Para o alto empresário, mantêm-se as ligações mais longas com as grandes capitais europeias(e países de expressão portuguesa), escolhidas de acordo com o seu tráfego habitual.
Para que isto se torne viável, a TAP deve encetar uma política de captação de investimento nos dois países, que aposte em construir definitivamente a rede de “low cost ibérica”. Naturalmente que a presença de capital espanhol seria importante e o papel dos Governos teria de servir como intermediário. É claro que ainda existem muitas variáveis a ter em conta, e o estudo deverá ser aprofundado, mas na minha óptica só através de um modelo do género poderemos salvar a TAP e também melhorar o transporte aéreo.
Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 2010
Don Bateman - Evitar e não resolver
Habituei-me a admirar pessoas que não resolvem problemas mas sim evitam-nos. O poeta escocês Robert Stevenson dizia que a altura mais apropriada para parar uma revolução é no princípio e não no fim. Não podia estar mais de acordo. Sou um indefectível admirador de uma data de heróis invisíveis, que preferem passar ao lado da história. Como um anjo da guarda, um suspiro que nos dá tranquilidade no meio do vazio. Don Bateman é um desses homens. Admiro-o muito.
Apesar da Liga dos Campeões, ontem parei o meu serão futebolístico. Tinha de ser, o Discovery ia falar sobre o Bateman. Meus amigos, este americano foi o inventor do GPWS, o pai do actual GPS. Depois de alguns desastres aéreos, o cientista canadiano criou um sistema capaz de indicar aos pilotos qual a altura do aparelho e a morfologia do terreno. Parece corriqueiro, não? Hoje vemos tudo em 3D. Este homem, porém, evitou inúmeros desastres aéreos comerciais e, mais do que isso, permitiu que os pilotos passassem a aterrar em situações extremas de nevoeiro. Foi um instrumento precioso na II Guerra Mundial em prol dos Aliados. Agora pensem nas mortes que evitou.
A necessidade, neste caso o desastre, aguça o engenho. Neste caso a solução. Quando se deu o acidente de Cali – em que o avião chocou com uma montanha - os especialistas notaram que o GPWS não lia a informação que estava à frente do aparelho. Sem Bateman, mas com a sua lição bem presente, nasceu o GPS, instrumento de navegação em três dimensões(via satélite) que hoje dispensa apresentações. Foi uma espécie de "upgrade" do GPWS.
Depois de Cali deu-se o desastre do Concorde, em França. Ficou provado que o incêndio num dos depósitos de gasolina foi causado pelo rebentamento de um pneu, que passou por cima de uma tira metálica deixada por outro avião. Mais do que evitar as tiras metálicas, pediam-se outro tipo de pneus. Nasceu o kevlar, uma fibra cinco vezes mais forte que o aço, que hoje é usada por todas as companhias de aviação. Também agora, após o acidente da Air France, sucedem-se os estudos para se ter uma cobertura de radar total no Oceano Atlântico, evitando-se futuramente o hiato que causou a tragédia.
Quem foi o primeiro Rei de Portugal ? D. Afonso Henriques. E o primeiro a chegar ao Brasil? Pedro Álvares Cabral. Não falo de marketing, mas a história ensinou-me que há sempre um lugar de trono para o primeiro. No mundo da aviação, de ceptro em punho, reina Don Bateman. Seria uma das minhas entrevistas de sonho! Gostava tanto que os nossos políticos fossem assim...