É a divisão da minha casa que menos uso dou. Ou melhor, é a divisão mais prática, prostituta, descolorida que uma casa pode ter. Qual é o interesse de uma casa –de-banho para além da sua dimensão de limpeza e asseio?
Fazem-me confusão todos aqueles que vão ler o jornal para a casa-de-banho. Calças em baixo surge toda uma componente reflexiva que induz o pensamento e o julgamento crítico. O sofá, estático na sala, sente-se ofendido e amarrado. Ele, que é amplo e confortável, apenas se pode contentar com “As Tardes da Júlia” ou o “Preço Certo”. Agora, aquele pequeno círculo de mármore tem todo o tempo para ficar a par do que se passa do outro lado do mundo; de saber as cotações da bolsa e mesmo de descobrir alguns dos segredos da Herta Muller, o novo Prémio Nobel da Literatura.
Intriga-me. As pessoas são capazes de passar horas no IKEA, fora a posterior discussão, a ver qual o sofá que melhor se enquadra às definições da sala. De ver o seu posicionamento, a sua colocação em frente à televisão e de se estudar a sua funcionalidade correlativa com todas as outras divisões da sala. Pois bem, já dizem os holandeses que sem estereótipos seriamos todos mais felizes. Se fosse a eles substituía-os por 4 ou 5 sanitas bem redondas mesmo em frente ao LCD. Que sala bonita! A Herta Muller agradeceria.
Eu mantenho-me, e manter-me-ei, fiel à tradicional definição do sofá. Se tenho de passar tempo em casa que seja lá sentado. Na casa-de-banho limito-me ao “stop and go”. Isto claro mantendo os meus padrões de asseio e de estética. Mas digo-vos: se pintassem a parede da minha casa-de-banho de laranja eu nem sequer me iria chatear. Para mim será sempre uma divisão sem cor, que não merece a profundidade dos meus pensamentos. Tenho dito!