Hoje vi um tipo na meio da rua. Tudo muito normal não fosse a indumentária. Calças azuis – escuras impecavelmente vincadas, camisa aos quadrados e um pullover ao pescoço, com o nó de marinheiro geometricamente solto no pescoço. Cabelo penteado com risca ao lado e óculos com pouca graduação. Duvido que o tipo precissásse de óculos para fazer fosse o que fosse. Era mesmo só para dar aquele aspecto politicamente correcto de profissional dedicado, que chega a horas ao posto de trabalho e é extremamente afável com os colegas. Poucas dúvidas tenho: o tipo ia a uma entrevista de emprego.
Eu se fosse gestor de recursos humanos das primeiras coisas que fazia era ir a um infantário com uma tela gigantesca, e pedir a um conjunto de miúdos que a pintassem da maneira mais “javarda” possível. Depois colocava o quadro no meu gabinete. Mal entrássem os candidatos eu perguntaria:
“O que pensa deste meu quadro?”
Tenho a certeza que aquele fulano, que eu hoje vi passar,diriaque se tratava de um magnífico exemplar de arte abstracta típico de uma transmissão de mensagem profunda e estado de espírito melancólico por parte do autor. Ou daria uma resposta menos criativa, dizendo que era muito bonito e que ele próprio tinha como principal passatempo a pintura. É claro que se ele me surpreendesse com uma resposta sincera eu estaria disposto a matar o meu estereótipo. A mudança de opinião é sempre permitida!
Quando tudo bate muito certinho, para mim nada bate certo. Naquela pequena fila de trânsito tracei o perfil àquele indivíduo que passou. Penso que ele não foi longe na entrevista de emprego dele. Se eu fosse o recrutador pelo menos já estava com pontos negativos na avaliação. E eu aposto que aquele tipo não precisava de óculos!