Terça-feira, 10 de Novembro de 2009
O turbante e a gravata

 

A sociedade evoluiu ao longo dos tempos, e com ela todo um conjunto de adereços que simplesmente têm representatividade estética. Mas o pior de tudo é que são predominantes. Decisivos mas supérfluos. Enfim, são razões que a razão desconhece, já dizia a poetisa.
 
Vamos inverter os factos e ver como tudo fica. Imaginemos que os que sempre usaram fato e gravata passam a usar turbante, e toda a comunidade árabe passa a ser identificada pelo fato e gravata. Se o cenário traçado tem alguma graça, penso que as linhas mestras com que a sociedade se orienta se manteriam inalteráveis.
 
“ Sr. Dr, como está? O seu turbante lilás está magnífico. Pronto para mais uma reunião com o conselho de administração? Pois, ahahaha, sempre prontíssimo. Tem de ser!”
 
E naquele gabinete da SONAE todos se reuniriam a discutir as diferenças do mercado de valores, as novas oportunidades e a dinâmica empresarial enquanto que, de soslaio, se tentava vislumbrar qual o turbante mais adequado. Até  parece que já estou a ver o Paulo Azevedo reunido com o Zeinal Bava, respectivamente turbante azul e vermelho, a tratarem de fusões estratégicas enquanto arreganhavam as suas túnicas para não se ver a pernoca quando sentados na poltrona.
 
“Está a ver este botão de turbante. Foi a minha mulher que me ofereceu nos anos. É fantástico, não acha?”
 
Por outro lado, ferve o interesse da comunidade ocidental em descobrir e compreender os anseios do Médio – Oriente. Aqueles engravatados, que cinco vezes por dia rezam em direcção a Meca, têm o terror expresso naqueles nós que lhes tortumilham o pescoço. Toda a luz da fé muçulmana se reflecte nas tiras de um pequeno tecido de pano que apenas serve para assustar a fina nata da civilização turbantada.
 
Arrisco-me a dizer que tudo ficaria na mesma. Aliás desconhecem-se as origens do turbante e da gravata. Do turbante sabemos apenas que nasceu algures para os lados da Síria, supostamente para os guerreiros se protegerem do sol no deserto. É pena, na altura não se tinha ainda inventado o boné da Nike. Já viram o que seria o Sandokan e o Lawrence, em plena Mesopotâmia, a travarem lutas frente aos beduínos enquanto a espada trespassava um boné do Pat Ewing?

Da gravata vou-me remeter ao silêncio. Foi inventada na Polónia.


publicado por Gil Nunes às 11:07
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Abril 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
14
15
16

17
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30


posts recentes

O turbante e a gravata

arquivos

Abril 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Maio 2009

Abril 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Agosto 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Dezembro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Junho 2004

tags

todas as tags

links
subscrever feeds
Em destaque no SAPO Blogs
pub