Sexta-feira, 20 de Novembro de 2009
A mentalidade "Scolari" do sistema laboral
Hoje recebi um mail que confirmou algo que já tinha lido há uns tempos. Os suecos reduziram a carga horária dos seus trabalhadores, deixando mais tempo para que cada um possa desfrutar da sua vida. Porque é disso que se trata: vida. Segundo as novas contas cada sueco trabalha apenas 5,5 horas por dia mas às contas disso a produtividade do país aumentou em 20%.
É uma medida prática e eficiente. Sem mais alongas. Eu acho que no nosso sistema laboral existe muito a mentalidade “Scolari” com os resultados que se sabem. A necessidade de se criar um espírito de família, de superação e de entrega aos valores da empresa acaba por ser um verdadeiro guindaste açambarcador da liberdade. Mas será que o trabalhador já não sabe disso?
Se não sabe, devia saber. Tudo na vida funciona à base do grupo, sendo necessárias as compensações ao outro em caso de falha. Na altura do mérito também o galardão é distribuido por todos aqueles contribuiram. Acho lógico e linear. A mentalidade “scolariana”, para mim, não passa de mais um dos “filmezinhos” da nossa sociedade.
Tenho o direito de escolher aqueles com quem me relaciono. Uma das coisas que mais confusão me faz são os chamados “fins-de-semana da empresa”. Na minha óptica temos o dever de promovermos um relacionamento agradável e cordial com os colegas de trabalho e o direito de escolhermos com quem pretendemos passar tempo. Por isso, os ditos “fins-de-semana” podem ser promovidos, mas a sua adesão facultativa. Mais do que qualquer trabalho ou produtividade, interessa é a felicidade do indivíduo e o aproveitamento da sua vida. Para tal, o desfrute em pleno do tempo livre é, para mim, um direito absolutamente inalienável. Passa o tempo com quem quiser,aproveitando de forma intensa todos os minutos.
Tal como noutras questões, a mentalidade nórdica faz falta a um pais por vezes demasiado emocional. Será que as pessoas são realmente felizes? Eu acho que não. Pugno por uma sociedade mais realizada, com espírito de trabalho responsável e, acima de tudo, com carácter.
Terça-feira, 10 de Novembro de 2009
O turbante e a gravata
A sociedade evoluiu ao longo dos tempos, e com ela todo um conjunto de adereços que simplesmente têm representatividade estética. Mas o pior de tudo é que são predominantes. Decisivos mas supérfluos. Enfim, são razões que a razão desconhece, já dizia a poetisa.
Vamos inverter os factos e ver como tudo fica. Imaginemos que os que sempre usaram fato e gravata passam a usar turbante, e toda a comunidade árabe passa a ser identificada pelo fato e gravata. Se o cenário traçado tem alguma graça, penso que as linhas mestras com que a sociedade se orienta se manteriam inalteráveis.
“ Sr. Dr, como está? O seu turbante lilás está magnífico. Pronto para mais uma reunião com o conselho de administração? Pois, ahahaha, sempre prontíssimo. Tem de ser!”
E naquele gabinete da SONAE todos se reuniriam a discutir as diferenças do mercado de valores, as novas oportunidades e a dinâmica empresarial enquanto que, de soslaio, se tentava vislumbrar qual o turbante mais adequado. Até parece que já estou a ver o Paulo Azevedo reunido com o Zeinal Bava, respectivamente turbante azul e vermelho, a tratarem de fusões estratégicas enquanto arreganhavam as suas túnicas para não se ver a pernoca quando sentados na poltrona.
“Está a ver este botão de turbante. Foi a minha mulher que me ofereceu nos anos. É fantástico, não acha?”
Por outro lado, ferve o interesse da comunidade ocidental em descobrir e compreender os anseios do Médio – Oriente. Aqueles engravatados, que cinco vezes por dia rezam em direcção a Meca, têm o terror expresso naqueles nós que lhes tortumilham o pescoço. Toda a luz da fé muçulmana se reflecte nas tiras de um pequeno tecido de pano que apenas serve para assustar a fina nata da civilização turbantada.
Arrisco-me a dizer que tudo ficaria na mesma. Aliás desconhecem-se as origens do turbante e da gravata. Do turbante sabemos apenas que nasceu algures para os lados da Síria, supostamente para os guerreiros se protegerem do sol no deserto. É pena, na altura não se tinha ainda inventado o boné da Nike. Já viram o que seria o Sandokan e o Lawrence, em plena Mesopotâmia, a travarem lutas frente aos beduínos enquanto a espada trespassava um boné do Pat Ewing?
Da gravata vou-me remeter ao silêncio. Foi inventada na Polónia.
Terça-feira, 13 de Outubro de 2009
Os argentinos
Procurar o conflito não é mau. Às vezes é o segredo da solidez de várias relações. Mas há pessoas que o procuram por necessidade, outras que o evitam. Uma questão de feitio e das características de cada um, que não quer dizer seja o que for. Por outras palavras uma pessoa conflituosa pode ser excelente, ou uma pacata pode ser traiçoeira. Para mim as várias definições estão interligadas mas não estão relacionadas, vivem em universos diferentes.
Às pessoas que procuram constantemente o conflito costumo chamar de “argentinos”. Se repararem os argentinos conquistam muita coisa, sobretudo no desporto, à custa das suas emoções e da garra que empregam nos seus combates. Procuram o conflito para dele tirarem partido, pois têm aí um ponto forte.
Eu aprendi a lidar com os argentinos através do meu vizinho de baixo. Era miúdo e punha a música mais alto e lá vinha ele bater à porta e reclamar; tinha o azar de partir um prato e lá vinha mais um discurso do sossego e da tranquilidade; e eu lá reagia, tentando-me defender da maneira que podia sem me chatear muito. Os conflitos sucediam-se em catadupa e mais um bocadinho estava enclausurado, a navegar à custa dos meus azares.
Às tantas dei por mim a pensar. Sim, porque eu acho que a solução para os nossos problemas pode estar ali ao lado. Fiz uma experiência, aliás duas! Para me testar coloquei o “Atom Bride Theme”, dos Blasted Mechanism, nas alturas na aparelhagem lá de casa. Eram 9 da noite e 5 minutos volvidos lá estava o dito cujo.
“Já estou farto de lhe dizer qualquer dia chamo a polícia e blá, blá, blá”
“Pois….sim….. tem razão” disse eu tentando demonstrar segurança com o cuidado de não vacilar nas minhas palavras.
Três dias depois foi mais uma injecção musical, desta vez de “Nookie” dos Limp Bizkit. Uma barulheira infernal e cinco minutos volvidos…nada! Mais uma faixa do cd… e o sossego é a nota dominante! E eu tinha a certeza que ele estava em casa, pois vi-o mais tarde na janela a fumar!
Podia ter sido um dia como outro qualquer mas aprendeu-se algo. Eu pelo menos evoluí à custa das minhas experiências. Há milhares de argentinos à nossa volta. Se não queremos conflitos apenas há que compreende-los e lidar com eles em nosso benefício. Agora, acreditem, eu não gosto nada de conflitos, porque acho que se virmos bem a duração da nossa vida, e posta a probabilidade de que a qualquer momento podemos levar com um vaso na cabeça e ir desta para melhor, não me apetece nada passar estas férias a discutir!