Uma editora convidou-me a escrever um post diário com as minhas memórias. Para compilar quando chegar aos 30! Faltam 150 dias
Nasci junto ao mar, mas não sei nadar. Eu sei que sou uma pessoa estranha, mas pouco me importam juízos de valor. Como eu costumo dizer, a definição de anormalidade num mundo corrupto pode sempre passar pela maior das virtudes!
Filho único, tive de inventar companhias toda a minha vida. Aliás, talvez tenha sido essa a génese da minha criatividade habitual. Nas minhas recordações não há muita gente, mas há episódios. E algumas pessoas, vá, pois também eu sou um animal social, ou pelo menos aprendi a ser.
Junto à praia da Madalena, lembro-me de ter um medo terrível de besouros, aquele bicho irritante que mais parece uma mutação genética da abelha Maia. Bem, primeiro era medo, depois aprendi a combate-los. Naquela praia ladeada por ruas de terra batida e uma ribeira nauseabunda(hoje Ribeira da Ateães) era frequente verem-me à noite, com uma pequena rede na mão, a tentar capturar os ditos insectos, cujo deslizar no ar provoca um som extremamente irritante.
Tinha 4 anos e fui picado por um besouro. Fiquei com a cara inchada mas, pior do que isso, tive um pesadelo terrível. Dormia no sótão onde pedi transferência de uma pequena cama imóvel, para um amontoado de colchas amplas que serviam de cama. “Ai, meu filho, isso faz-te mal à coluna”, diziam-me, mas pouco me importei. Foi nesse amontoado que tive um dos maiores pesadelos da minha vida.
Um velho desdentado, ladeado por dois assistentes, apareceu, nesse sonho, diante de mim e obrigou-me a por a mão no ar, jurando fidelidade à defesa dos besouros até ao final dos meus dias. Não sei como explicar, mas foi tão real que parece que estou a ver o velho desdentado diante de mim. Acordei imediatamente com um grito enorme, comecei a correr pela casa. Não dormi até de manhã. Não mais me esqueci desse sonho que me marcou, isto apesar da tenra idade.
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