Na minha casa, havia um terraço que dava para o mar. Era de fazer inveja a qualquer condomínio de luxo! Ainda pequeno, acompanhava os mais adultos nas idas à praia, que se intensificavam durante o Verão. Estávamos na altura do desastre do petroleiro “Reyjin”, que deixou a praia da Madalena completamente poluída.
Nesta data, fiz várias incursões à praia para recolher estrelas do mar. Trazia às dezenas. Hoje, já é mais complicado de encontrar. No terraço, depois de secas, fazia as minhas exposições artísticas. Lembro-me de ter arranjado pequenos fios e, de uma forma arcaica, ter feito alguns colares, que usei durante algum tempo.
Mas não havia muito para fazer. Tinha de dar azo à minha criatividade para me entreter, passar o tempo. Desde pequeno, sempre me habituei a lidar bem com o tédio. Adquiri o hábito de dormir com facilidade, e de o ultrapassar. É o que dá ter hábitos de infância solitários, e também não ter tido irmãos. Um deles era relacionado com formigas.
Havia dois canteiros, e um balde amarelo. O primeiro canteiro ficava na entrada do salão de jogos; o segundo, na garagem onde o meu avô guardava as ferramentas. Lembro-me que aprendi mais depressa os números do que as letras. E fazia contas com muita perícia. Foi também a altura da minha costela sádica vir à tona.
Enchia o balde com água, e pegava numa palhinha. Colocava, uma por uma, formiga dentro de água para testar a sua resistência sem respirar - hoje não seria capaz de tal coisa: mesmo nas ínfimas caminhadas, respeito imenso a morte; e apontava tudo num caderno. Nas contas, verifiquei que as formigas do canteiro da garagem eram mais resistentes. Não, não me interesso muito por biologia!
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