Eu detestava a escola. As minhas primeiras idas à escola foram um verdadeiro suplicio. Não havia dia em que eu não saísse de lá a chorar. Nos recreios encostava-me no meu canto, até que o meu algum jeito para o futebol me chamava para as brincadeiras. A bola era o meu passaporte para o mundo da sociabilização. E deu-me muitas imanências(momentos de prazer). Lembro-me de dois golos em particular que marquei: um em que me antecipei a um defesa e rematei rasteiro; outro em que, no meio da confusão, disparei de pé esquerdo sem hipótese de defesa!
Aliás, o desporto fazia-me socializar. Então, se estivesse aliado à competição melhor. Raramente ouvia fosse o que fosse que a professora dizia nos últimos minutos da aula, que terminava às 5. Soava o alarme e…zau! Corria que nem um louco para ver se era o primeiro a chegar ao portão. Como eu, havia mais cromos em competição.
No primeiro dia de aulas, recordo-me, pediram-me para desenhar a chuva no caderno. Todos fizeram uns traços mas eu decidi inovar, colocando os meus em obliquo. “Está vento, expliquei”. E fui aceite. Mas a professora deliciava-se era com os meus dotes para os números. “Eu nasci em 1935, diz lá quantos anos tenho”. E eu não falhava, para gáudio da multidão.
Apesar do meu bom aproveitamento – até chorava quando tinha um exercício errado – não havia meio da escola me motivar. Aquilo era uma seca! Havia, porém, duas coisas em que não estava bem: expressão plástica e a minha horrível letra de médico( Ainda hoje não é muito famosa)
Aquela professora – à antiga portuguesa – não se inibia de dar uns valentes tabefes sem pedir licença. Levei alguns(poucos). Nos primeiros dias lembro-me de um em particular, completamente injusto. Numa composição a professora leu “matelo”. Mas garanto-vos: o “r” estava lá, indecifrável, minúsculo. As minhas justificações foram em vão. “Para a próxima tens mais cuidado com a letra”, disse-me. Fiquei com a cara vermelha.
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