Às vezes, quando estou sozinho no Ar de Mar ao final da tarde, tenho por hábito colocar-me discretamente a ouvir o que se passa na mesa da frente. Se bem que, para não me tornar cusco, só costumo dar conta dos primeiros retoques, desta vez a minha escuta foi bem mais alargada.
À minha frente um casal de rebeldes sem causa, como que saídos da turma 9ºC da Carolina Michaelis. Ela, com brincos em praticamente 60% dos poros, ouvia atentamente aquilo que se poderia chamar como tentativa de engate por parte do seu parceiro masculino. "Sabes como é, no 1º ano da universidade os rapazes só falam de alcool, droga e gajas. No 2º ano só se fala de droga e de gajas e no 3º ano só se fala de gajas".
Falava com uma determinação tal que parecia mesmo estar a relatar o último livro do Lobo Antunes ou a descrever o traço do Piero della Francesca. Os cigarros, que saiam a um ritmo estonteante, pareciam debroar a sua face com uma mística névoa de sapiência. Depois de ouvirmos o seu relato de vida, pouco espaço há para retorquirmos mas ainda assim vou tentar ultrapassar esse desafio.
Caro amigo, onde está o futebol no meio disto tudo? Estimo em saber que as gajas tenham ficado para os últimos anos da faculdade, pois tornar-se desinteressado nesse assunto estando ao mesmo tempo afogado em absinto e alucinado com ervas não me parece muito aconselhável, eu diria até perigoso e desviante. Onde estão as discussões de vão de escada sobre a saída do Miccoli, sobre o golo do Sektioui ao Marselha ou sobre os livres do Cristiano Ronaldo? Isto é grave, meu amigo, muito grave sobretudo se no meio das tainadas e das bebedeiras não houver uma partida de PES ou de Football Manager.
Do mesmo modo, penso que de futuro deve tomar em linha de conta que os temas alcool, drogas e gajas não são o melhor mote para se entrar em rota de engate com o sexo oposto. Se bem que nalguns casos possa resultar, devo dizer-lhe que na maior parte das vezes assim não se passa. Penso que só terá real noção deste caminho quando começar a alargar o seu leque de interesses. È como lhe digo, e registe este conselho de amigo, comece a ver uns joguitos que não lhe deve fazer mal nenhum. Pode ser que depois comece a gostar de música, depois de arte...até de ler quem sabe!
Nota- Estarei em Laax, Suiça, até dia 29 de Março. Tentarei actualizar o blog mas não sei se será possível!
Hoje, sexta-feira santa, somos inundados na televisão de programas e filmes relacionados com a época festiva que atravessamentos. Na TVI, uma produção que não tinha visto contava a história dos dez mandamentos.
De todos os mandamentos, há evidentemente um deles que salta imediatamente à vista: "não cobiçarás a mulher do próximo", contemporaneamente traduzido por "não pirilamparás a mulher do próximo". Serve este exemplo para nos debruçarmos sobre a pertinência da aplicação legal dos mandamentos e, em particular, deste exemplo em concreto.
Depois de publicação de um lei no Diário da República, os cidadãos ficam sujeitos à lei anterior durante um período de seis meses, altura em que efectivamente se aplica à nova lei. Esse período tem o nome jurídico de vacatio legis. Ora, não tendo os dez mandamentos sido sujeitos a aprovação parlamentar, devo desde já aquilatar a sua pertinência. Contudo, para não entrarmos em blasfémia, e vindo de Quem veio, penso que poderemos ultrapassar este aspecto.
Sobre o mandamento em particular, gostaria de saber o que se entende por "mulher do próximo". Afinal quem é o próximo, quem nos está próximo ou distante? Se esta questão já tem pano para mangas, o que dizer da morosidade dos processos de divórcio no nosso país? Se legalmente a mulher não estiver separada, não pode mesmo ser cobiçada por outrém? E já nem quero falar dos casos em que existe complacência por parte do conjuge, o chamado caso do "corno manso". Questões que ficam por esclarecer e que necessitam de alguns sublinhados.
PS- Falando a sério, sabe-se da minha posição contra o clubismo religioso e da substituição das crenças pelos valores, nomeadamente da paz, harmonia e fraternidade, sejam eles vestidos de qualquer forma de devoção! Viva o ecumenismo!
Nota introdutória: O “Anti-Gil” foi criado seguindo uma linha de pensamento plana e horizontal. Caso deseje seguir a linha de pensamento esférica, por favor altere o título para “Descrição de Gil a 180º”.
Leninegrado, 19 de Março de 2008,
Acordei cedo, ainda o sol despontava no horizonte. Já não tomo banho há oito dias e as minhas unhas cortantes tendem a transformarem-se em garras. Às vezes as pessoas perguntam de que forma eu, Gilovskis, com algum dinheiro ganho pelo sucesso da minha loja de roupa hip-hop ainda saio à rua nesta figura.
Com a barba quase a roçar a minha taça de flocos pego na minha roupa mensal, antes de rumar ao metro em direcção ao trabalho, que fica do outro lado da cidade. Na loja nada de novo, as vendas correm de vento em popa e todos os meus empregados estão esbeltos e musculados, como sempre!
Na hora do almoço, e muitos cigarros depois, vou à tasca do Flaminov comer um dos meus menus predilectos: Papas de Sarrabulho, Sardinhas à la Plancha e para terminar uma bela dose de diospiros.
À tarde, depois de mais uma inspecção contabilística à empresa, vou até ao ginásio para mais uma aula de ballet. Já me considero um verdadeiro mestre na arte do “paso-doble”. Tenho a certeza que o Vladimir, meu companheiro, gostará desta minha evolução tremenda.
Encontro-me com ele no museu ao final da tarde, enquanto bebemos rum e absinto. São os meus aperitivos predilectos para uma noite em cheio no cinema com “O Andróide Comunista e os Cowboys do Espaço”. Que tema oportuno, adequado para responder ao e-mail do partido antes de me deitar. Não posso deixar a alma do proletariado morrer, atropelada pelo despudor capitalista.
Deito-me cedo, com o meu pijaminho de seda, que até já combina tão bem com o desgrenhado da minha barba e dos meus cabelos também apelidados de “fofinhos”.
Todos os dias recebo no meu e-mail um pedido para aderir a uma petição. Seja pelos cãezinhos abandonados, pela isenção da cobrança do imposto xpto ou pela defesa dos interesses dos consumidores, a minha caixa de correio tem lá sempre uma entrada com um destes tópicos. Decidi hoje dar uma lufada de fresco nesta onda de petições, fazendo a minha própria, debruçando-me sobre um tema realmente importante.
Ao longo da minha caminhada estudantil, a quase maioria dos professores me recomendou cadernos de napa preta. Ora, passados alguns anos, cabe-me fazer o balanço desta utilização constante e devo dizer que tal é profundamente negativo.
Apesar de eu não ser muito estudioso, reparei que o constante virar e revirar de páginas provoca um desgaste na napa, sustentada por apenas três agrafos. Pergunto como é que é possível um tão importante instrumento de estudo, como são os cadernos e os apontamentos nele contidos, estarem apenas sustentados por uma estrutura tão débil. Numa era de defesa do ambiente, nem quero imaginar a quantidade de fita-cola gasta para que a napa não se desprendesse das folhas.
Outro dos factores de desgaste é a chuva, que afecta sobretudo os não-mochileiros como eu. Meia dúzia de pingas e lá se vai a napa não impermeável.
Do mesmo modo, ao contrário de um caderno de argolas, os cadernos de napa preta não apresentam a mesma comodidade quando escrevemos nas páginas pares. Nesta parte, posso mesmo dizer que me sinto tentado a escrever mais para rapidamente passar para uma página ímpar. Se este fenómeno é bom em termos de aplicação no trabalho, tem o efeito contrário nas páginas ímpares. Também não quero imaginar a quantidade de ensinamentos “esquecidos” devido a este entrave inconsciente.
Não sendo também um pleno apologista dos cadernos de argolas, devo manifestar a minha insatisfação perante o facto de, ao longo dos tempos, não ter assistido a um maciço desenvolvimento da indústria de cadernos. Ainda me lembro dos cadernos de Sports Billy que usava na escola primária. Esses sim, ao menos tinham estilo. De todas as minhas lembranças de cadernos é a única que considero positiva.
Com o intuito de recuperar a minha forma física e de impedir a propagação do fenómeno gordalhuco no meu corpo, decidi inscrever-me num ginásio. Como fica perto do emprego, tenho aproveitado os meus finais de tarde para realizar a minha sessão de treino.
Começo com umas pedaladas vigorosas na bicicleta. Acho entediante pedalar e não chegar a lugar algum uma senhora brasileira faz-me aligeirar a mente e leva-la a cavalgar para outras paragens. Olho para as meninas nas passadeiras e lembro-me da Malu Mader. Que bela actriz brasileira, marcante na sua geração, uma mulher de beleza rara que raramente aparece. Começo a fazer um scan na minha memória e lembro-me de várias cenas a cavalo numa telenovela chamada "Fera Ferida".
Chega a vez do remo e aqui não há Malu Mader que nos valha! Por muito que tente encontrar escapes, aqueles movimentos repetitivos mais que não são que ondas contínuas numa praia sem fim. Depois o walker e a manivela, mais dois exercícios monótonos mas que dado o pouco tempo utilizado consigo ultrapassa-los com tranquilidade.
Na parte das máquinas, a coisa torna-se mais divertida. Ao lado consigo estabelecer um "chit-chat" com algumas pessoas. Há sempre pretexto para se começar uma mini-conversa, nem que seja para nos queixarmos do exercício. Mais do que a componente física, esta parte do ginásio representa um verdadeiro estímulo social.
Na última parte do meu plano de treinos, a passadeira. Apenas faço dez minutos mas com grande vigor. Ainda em mim tenho aquele pensamento primário que devo correr atrás de algo. Para isso, meus amigos, prefiro a Lavandeira. Extenuado recolho aos balneários. Enquanto me visto penso no miserável jogo que a equipa de juniores do F.C.Porto fez no jogo de ontem. Assim, penso para mim, não vejo jeito de revalidar o título. Nem com a Malu Mader como cheerleader!
PS- Este post é dedicado à Pilar que faz anos hoje! Parabéns!
Por certo que os meus amigos Hugo Boaventura ou David Pais poderão corrigir um ou outro ponto que não estejam totalmente correctos nesta tradução do hino nacional. Afinal não se trata apenas de mais um cântico. Nesta metamorfose linguística, penso que perdemos todo o nosso portuguesismo, transformando-se um sentimento patriótico numa espécie de melodia do Ohio interpretada por Janis Joplin.
Já estão a imaginar aqueles filmes melosos de domingo, onde um corvette percorre aquelas estradas sem fim em busca de nova aventuras com a sua amadas de camisa felpuda aos quadradinhos. Naquelas terras onde até o chefe da polícia é porreiro e joga poker ao fim-de-semana com o velho bêbado na cortina cinzenta do salão de chá.
Para conferirmos alguma latinidade à cena, de modo a colocarmos esta música Janis Jopin na telefonia no salão de chá, sugiro que as personagens bebam chá-mate. Neste quadro subtilmente adulterado, a pista da erva bebível traz aos mais astutos a recordação da história do nosso país.
The Portuguese
Sea heroes
Noble sea
Rise up today again
The splendour of
Between the mist of the memory
Oh native land we feel the voice
Of yours prominent grandfathers
That will guide you to the victory
To the weapons
To the weapons
On the land and the sea
To the weapons
To the weapons
To fight for our native land
Against the cannons, to march, to march!
Amigos
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