Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2009
O incêndio
Ontem estive para ir desta para melhor. É verdade, não estou a exagerar. Não fosse a minha mãe ter chegado àquela hora e hoje estariam a receber mensagens sobre o terrível infortúnio.
Eram duas da manhã e fui acordado com a notícia que o meu disjuntor de electricidade estava a arder. De facto, horas antes quando tomei banho senti um cheiro esquisito, mas nem liguei. Felizmente a minha mãe deu conta do sucedido e conseguiu avisar-me e, assim, não respirei os ditos ares que seriam fatais.
Aquilo à entrada estava mesmo a arder. Com alguma atrapalhação conseguimos retirar alguns objectos do armário da entrada (onde estava o disjuntor) e pensamos em agir. Na minha cabeça a primeira coisa que me ocorre é que, em caso de perigo, o imediato a fazer é pensar na situação e não agir com precipitação. Como o disjuntor a arder estava perto do cilindro, saio porta fora para alertar a vizinhança. Enquanto que a minha mãe tentava retirar o máximo de objectos que podia, o que foi muito sensato pois o prolongamento em cadeia das chamas podia ter consequências explosivas, fui eu, mais o vizinho, até à escadaria de serviço buscar um extintor. Apesar de alguma atrapalhação a retirar a patilha de segurança, lá conseguimos manejar o extintor e apagar o incêndio. Entretanto chegam bombeiros e polícia, prestando a assistência necessária em relação aos cuidados suplementares.
Tudo não passou de um susto, é certo, e a companhia de seguros agora tratará do assunto. Se querem que vos diga a verdade, confesso-vos que até achei uma experiência interessante. Primeiro porque fiquei contente comigo mesmo por ter conseguido ser o frio suficiente para dar o contributo necessário à situação; depois, porque apesar de ter estado a poucos minutos de conhecer o outro lado da vida, não me assustei minimamente, o que achei muito curioso! Como diria a Agustina Bessa-Luís, eu não levo a vida muito a sério!
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2009
Três objectos de culto
Três objectos de culto
Apesar de não ser um indivíduo muito supersticioso, guardo em minha casa três objectos especiais. Também, quem me conhece, sabe que não sou grande adepto de fotografias, preferindo guardar eu as minhas recuperações através de alguns objectos simbólicos. Da minha lista, dou-vos a conhecer três objectos especiais, que não têm preço possível para mim:
1- I Cerioni
Liga dos Campeões Universitária de Futsal, 2000. Na fase final vi uma série de exibições soberba por parte do guarda-redes da selecção de Itália, de seu nome Silvano. Hoje joga na I Divisão italiana, e não mais me esqueci da extraordinária performance deste guardião, ao ponto de ter ido ao balneário italiano pedir a sua camisola. Simpaticamente, disse que a de jogo não podia oferecer porque estava prometida mas se eu quisesse que lhe oferecia a camisola interior. Guardo “I Cerioni”, a publicidade que lá está estampada, assinada entre as minhas relíquias, naquele que foi o melhor guarda-redes que eu já vi a actuar ao vivo. Por lapso levei-a à Letónia, recentemente, por engano! Aquela camisola não é para vestir!
2- Areia do deserto “Sahara”
Na altura, com uma fractura do braço esquerdo, não tive oportunidade de andar a camelo como seria habitual para qualquer turista que se preze. No entanto, num frasquinho, recolhi alguma areia do deserto do Sahara. Conservo-a religiosamente numa das prateleiras e, meus amigos, não está à venda!
3- Relvado do Estádio dos Antas
Não pensem que se trata de relva do Estádio das Antas antes da demolição. Trata-se de relva datada de 1995, altura em que a RED mudou o relvado da catedral, servindo a nova várias gerações de campeões. Hoje é um pouco de formol nauseabundo mas pelo meu quarto lá continua, junto à areia, em lugar privilegiado.
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2009
Eutanásia
É um tema muito complexo, cujas conclusões são sempre muito arriscadas. Falar de nascimento ou de morte, no fundo as duas únicas verdades absolutas do conceito de vida, não é tarefa fácil.
A minha opinião vai um pouco de encontro à definição apresentando, estando as temáticas do “aborto” e da “eutanásia” umbilicalmente ligadas. Se por um lado entendo que a ninguém deve ser privado o direito de nascer, também entendo que todos têm o direito de definirem a sua morte como entenderem, num raciocínio que considero possuir sintonia.
É certo que todos vamos morrer, e na maior parte dos casos devido a patologias incuráveis. Se o paciente entende que não estão reunidas as condições para um estilo de vida condigno, pode ter todo o direito de colocar um termo à sua vida através de processos médicos assistidos. Todavia, sou um profundo defensor do investimento ao nível dos cuidados paliativos. Minorar ou eliminar o sofrimento físico são questões essenciais para a manutenção da qualidade de vida, tornando-se impreterível desenvolver todos os esforços nesse sentido. Entendo que à medida que os cuidados paliativos forem incrementados, a eutanásia diminuirá mas até porque acredito que a decisão de por cobro à vida resulta de um profundo desespero.
Seja como for eutanásia e suicídio são matérias que advêm dos direitos de cada um e não podem ser impedidos. No entanto, como seres humanos, devemos pugnar para que ninguém enverede por essa prática, até porque a vida, na minha perspectiva, tem muito mais coisas positivas que negativas!
É claro que entendo que a eutanásia deverá obedecer a um processo rigoroso e conclusivo, até porque não se pretende democratizar a prática com facilidade e leviandade. Refiro-me a doenças terminais, a estados de desespero total, a situações extremas. Não ao namorado que perdeu a namorada e que se vai matar porque pensa que não há mais mulheres no mundo! Isso é que não!
Para finalizar, e da mesma forma que esboço os meus argumentos em relação à eutanásia, não há também motivos plausíveis que impeçam uma pessoa de viver! Conceitos interligados, pugnarei por uma sociedade que proíba o aborto, dando a todos a fantástica experiência que é viver todos os segundos!
Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009
A frustração francesa
Infelizmente não sei falar francês convenientemente. É claro que sei dizer umas palavras básicas e até sou capaz de compreender um discurso básico, mas sinto-me um bocado frustrado por não ser capaz de comunicar a um nível aceitável.
Seja como for tenho tentado suprir essa brecha através da música. Se por um lado tenho ouvido rádios polacas para melhorar o meu vocabulário e entendimento nesta língua, também tenho deitado o ouvido à música francesa.
Apraz-me dizer que as rádios de leste, pelo que tenho reparado, são muito mais eclécticas que as portuguesas. Ouço com frequência temas em francês, alemão, russo, inglês e mesmo músicas latinas. Fazem muito bem a quem tiver essa curiosidade de aprender novas línguas, um dos principais obstáculos para quem se quer afirmar numa Europa repleta de múltiplas formas de expressão.
Fica aqui a promessa. Vou tentar, num dia longínquo, escrever algo em francês. Para já resta-me o consolo do contributo da música e de um tema fabuloso que tenho ouvido com frequência… Alizee“Moi Lolita”
Quinta-feira, 5 de Fevereiro de 2009
Carta ao meu velho computador
Caro computador Dell:
Por muito que dissessem que estivesses ultrapassado, eu continuo a ter um enorme carinho por ti. De facto, ainda não tenho possibilidades de construir um museu com as minhas peças mais estimadas, pois se o fizesse tu estarias lá certamente num lugar bem recatado.
Ou agitado, melhor dizendo, conforme achares mais conveniente. Foi nas tuas teclas que escrevi os meus primeiros contos e, a bem dizer, a melhor parte do livro também apareceu no teu monitor. Como sabes nem sou assim muito sensível, pois se tal fosse acho que teria uma certa estima.
Também não escapas ao tempo, infelizmente. Aquele que é o meu grande desgosto de vida por infortúnio também te afecta. Mas não, não te deixarei morrer. Vais para a sala de operações e vou-te transformar em bloco de notas ambulante. De tanto te habituares a andar na mala do carro vais ser promovido a “DJ” residente.
Vou-te livrar do peso dos filmes, dos DVDs, dos vícios do Football Manager sem sentido. Os jovens e vigorosos que sustentem esse fardo. Nos cafés, nos pequenos recantos, é no teu teclado que eu continuarei a desenhar os meus projectos. E não te preocupes, mesmo que digam que não me assentas bem eu não vou ligar. Como sabes nós os dois fazemos uma equipa de personalidade própria e indestrutível.
Viva a “Revalutzia”, Viva o “Yawp”, Viva “Amo-te num Saco de Cimento” e Viva “Os Pensos de Fígaro”. Vivam os artigos futebolísticos, as reportagens dos jogos e muitos mais…continuaremos a fazer história!
Terça-feira, 3 de Fevereiro de 2009
A questão da arbitragem
Arbitragem
Uma área incompleta
No fim-de-semana, fazendo zapping na tv em busca de um programa desportivo que captasse a minha atenção, aterrei na liga italiana, mais propriamente em Roma, para assistir ao Lázio-Cagliari. Os visitantes venceram sem qualquer margem para dúvida (4-1), com o jogo a ficar marcado por inúmeros erros de arbitragem em benefício dos locais: na memória ficaram os “off-sides” em catadupa, as duas grandes penalidades inventadas pelo árbitro (e desperdiçadas) e o leque interminável de faltas duvidosas a favor dos romanos.
Num momento em que se fala tão veementemente do estado da arbitragem em Portugal, penso que o exemplo deste jogo pode ser servir de introdução a uma reflexão mais profunda, começando por questões elementares que nos ajudam a preencher todo o enquadramento. De facto, para mim, um espectador longínquo, o jogo não teve uma boa arbitragem. Todavia, passando de relance pelos jornais italianos do dia seguinte, não deslumbrei nenhum artigo ou comentário excessivamente crítico em relação ao que se tinha passado. Quero com estes elementos chegar a um ponto essencial, com uma pergunta que me parece extremamente pertinente. Será que eu, colocado num ponto exterior à cena, consegui ver algo que os intervenientes locais deixaram passar em claro?
Lembro-me de um professor que tive na Universidade, cadeira de Relações Públicas, que me perguntou qual o tema em que eu mais depressa recusaria fazer um trabalho. “Carros”, disse eu, na sinceridade dos meus conhecimentos automobilísticos muito escassos. “Pois vai fazer um plano de comunicação do Circuito do Boavista. Como não tens qualquer relação emocional com o evento, verás que o teu trabalho ficará muito mais minucioso”, respondeu-me. Tirei 16 valores e não mais me esqueci daquela lição…e continuo a não apreciar o desporto automóvel!
Ao falarmos sobre a arbitragem nacional, é necessário termos em linha de raciocínio que, quer assim o pensemos ou não, também fazemos parte do fenómeno. Somos parte integrante do país, estamos inseridos no seu “caldo de cultura”, tendo as reacções típicas de um povo nas suas acepções mais ou menos positivas. Da mesma forma que não considero que sejamos todos iguais na forma como encaramos o fenómeno desportivo, também considero que a arbitragem negativa não escolhe geografia. Existe em Portugal, em Itália, em Inglaterra ou onde queiramos que a nossa imaginação nos leve, tal qual como noutras profissões.
Assim, considero descabida a ideia de colocarmos árbitros internacionais a dirigirem os jogos dos chamados “três grandes”. Até porque não sabemos, e recorrendo á psicologia e à célebre teoria da “Janela da Joady”, qual a forma como os outros nos vêem a nós. Deste modo considerava bem mais proveitosa a criação de uma auditoria externa que, de uma forma rigorosa, nos desse a conhecer as virtudes da arbitragem e as imperfeições dos “homens do apito”. Se, tal como diria o meu professor de Relações Públicas, a mesma fosse realizada por indivíduos ligados a outras áreas, poderíamos ter um resultado desprovido de componente emotiva, porventura a chave da solução que agora buscamos. Porque o futebol é um desporto pensado por homens errantes e incompletos…