Esta semana vem uma entrevista do economista George Friedman na revista Sábado. E vejam lá se ele não diz que a próxima potência emergente vai ser a Polónia. Para mim o cenário é mais ao menos óbvio. Os polacos foram bem inteligentes ao retardar até 2012 a adesão ao Euro. Deste modo recebem mais subsídios – fruto da maior maleabilidade com que podem medir a flutuação do zloty – e realizam mais obras no seu território. Por outro lado, também, perceberam que era uma ideia totalmente irrealista ter, nesta altura do mercado, uma moeda exactamente igual à da Alemanha, o que pressuporia um desequilíbrio total da sua economia.
Geograficamente falando, é vantajoso que os Estados Unidos, inevitáveis líderes do xadrez mundial, autorizem o crescimento da Polónia como principal zona de tampão entre a Alemanha e a Rússia. Na minha opinião, não ver o crescimento da Polónia é tapar o sol com a peneira.
Mas o que aconteceu em Portugal? Em 2001 o Governo da altura, de forma errada, decidiu que o nosso pais haveria de fazer parte do pelotão da frente da moeda europeia. O grande responsável por essa adesão – e também pela situação actual que se vive neste país – dá pelo nome de António Guterres. Foi um verdadeiro salto no desconhecido. Passamos de uma moeda fraca mas ajustada à realidade do país para uma moeda forte completamente desajustada. Para mim, foi a mesma coisa que nos deixarmos iludir pela magnífica veia goleadora do Cagoitas no São Pedro da Cova, e no dia seguinte o colocarmos a jogar como titular do FCP no jogo da Liga dos Campeões.
Antes, no final dos anos 90, foi também a altura do aumento dos subsídios sociais desmesurados, que deram azo ao chamado incentivo à preguiça e à molenguice. Naquela altura havia dinheiro, hoje não há. Num cenário de completa irresponsabilidade os portugueses passaram a estar endividados. E em tudo. Gastaram-se milhares em twingos, plasmas e em Nintendos. Nas ilhas sociais, proliferavam as antenas parabólicas. E, nas praias algarvias, o dentuças português mandava uns piropos às inglesas que passavam enquanto deixava para segundo plano a prestação da casa. Mal por mal alguém haveria de pagar.
E foram também os anos em que os chineses começaram a entrar em força em Portugal. Sem grandes regras, as suas pequenas economias enterraram lentamente as aspirações dos micro comerciantes, sem armas para contrapor esta guerra de preços, falta de espírito cívico e inteligência a longo – prazo. Os anos 90 causaram problemas sérios de vivência social, desequilíbrio da balança económica e inicio de perda de competitividade do produto nacional. Espero, um dia, ver todos esses intérpretes devidamente responsabilizados.