É a Albânia cá do sítio. Passar de Gaia para Espinho deve ser a mesma coisa que sair da Itália e entrar no velho país aniquilado pela tirania comunista de Enver Hoxha. Em Espinho as ruas não são rectas mas sim longas rectas. Para irmos de um ponto para o outro temos de contornar uma série infinita de sinais de trânsito o que, para quem tem fome, se torna muito agradável.
Se o ordenamento do trânsito não existe, o mesmo se pode dizer do aspecto da cidade. É uma cidade feia. Edifícios colocados ao acaso, uma linha de comboio que divide a cidade, uma falta de um fio condutor que retira toda a identidade. Então aquela zona ao redor do Estádio nem se fala. Parece mesmo que estou num país de Leste, só falta a foto do general com o dedo estendido a apontar em direcção ao infinito.
Com uma orla marítima com potencialidades, o melhor que eu consigo ver é um toldo enferrujado e meia – dúzia de peixeiras fazendo o seu negócio em cima dos muros. E não vejo pessoas a desfrutar da paisagem. O areal é vasto, as gaivotas até que dão um toque sui – generis mas de resto tudo se perde na insipiência do homem que pensou aquela cidade. È um jogo de computador em que se desistiu a meio porque a namorada chegou. As casas, a roupa a secar ao desvario, os bunkers e os prédios convivendo lado a lado.
Ontem almocei em Espinho. E não armei um escabeche no restaurante. Os mais próximos sabem que na maior parte das refeições como peixe ou galináceos e, como tal, tenho o palato perfeitamente preparado para distinguir peixe fresco de congelado. Mal dei a primeira dentada não tive dúvidas: era amargo, duro como se fosse um bife e não deslizava na língua de forma amanteigada. Estive para me revoltar e começar a disparatar com o empregado. Mas não o fiz. Seria daquelas discussão em que não se conclui se a bola entrou ou não na baliza. Uns dizem que não, outros que sim. Comi o que tinha a comer, paguei e jurei não mais colocar os pés naquele estabelecimento ou naquela cidade. Ainda bem que a Câmara mudou de Presidente!!!