"Mr.Pawel, I Presume"
Tinha um cabelo castanho tão liso, mas tão liso, que parecia ter recebido a brilhantina mais poderosa do mundo. Com uma calças impecavelmente vincadas e uns sapatos engraxados até ao limite, Mr.Pawel coloria toda a sua indumentária com uma brutal t-shirt rosa-choque.
Era assim, pelos vistos, a moda na Polónia e a vida de Pawel, um pitoresco funcionário da Hestia, uma companhia de seguros onde me desloquei com o meu amigo Nuno Bezelga, a fim de este resolver alguns problemas pendentes relacionados com a sua viatura.
Na empresa, situada numa zona empresarial de Gliwice, o Sr. Pawel impressionava também pelas suas dificuldades em se expressar em inglês. Apesar do seu emperramento, havia uma palavra que ele dominava na perfeição: "insurance" dizia ele, com uma convicção que nos esbofeteava mais veementemente que a sua própria t-shirt rosa-choque. E passo a exemplificar:
"You.........(30 segundos)......................must....................(30 segundos).............do insurance!".
Para terem uma real noção da expressividade de Mr.Pawel, imaginem, durante as pausas, um olhar para o profundo infinito e um gesticular de braços igual ao de um maestro em plena actuação no Coliseu.
"Portugal............(30 segundos)............other.............................(30 segundos)...do insurance!"
"Poland......(30 segundos)...............no valid insurance(30 segundos).................Portugal insurance!".
"Soraya"
Para um estranho, as cidades podem parecer redomas de um mesmo labirinto que nos levam a flashes momentâneos de memória. No meu primeiro dia na Polónia, visitei Auschwitz. Levaram-me até à estação e posteriormente apanhei um shuttle até ao antigo campo de concentração. Depois da visita, parei no aeroporto de Balice a fim de alugar um carro.
E aqui vou eu de Ford Fiesta de Krakow até Gliwice. Segui as primeiras indicações anotadas num papel mas, em plena A4, um desvio motivado por obras. Começo a dizer mal da minha vida e mais atrapalhado da vida fico quando me deparo com um placard electrónico a dizer "Ruda Slomska". Com os meus botões, começo a tirar as primeiras hipóteses de resposta: "deverá querer dizer circule devagar", penso eu, reduzindo a minha marcha.
Gerei uma pequena fila de carros atrás de mim, chegando á conclusão pouco tempo depois que, de facto, Ruda Slomska era o nome de uma pequena localidade para onde se devia fazer o desvio para chegar a Gliwice. Num desconhecido, lá continuei a minha marcha até chegar ao meu destino.
Em Gliwice, as pessoas a quem perguntei direcções não falam ingles. Perguntava-lhes onde era Kozielska(a rua pretendida) e logo me aparecia tilintando as ouvidos um discurso polaco imperceptível. O que fazer, pensei eu, não querendo telefonar para não dar parte de fraco, até porque tinha garantido que chegava a casa sozinho.
Comecei a circundar a cidade em busca de pontos familiares. No centro da cidade de Gliwice, existe um mega outdoor com uma modelo muito atraente chamada "Soraya". E, para terem uma noção, o outdoor é tão grande que se vê noutros pontos da cidade. Sabendo eu que para chegar a Kozielska tinha de passar ao lado do outdoor, calcorreei todos os trilhos de estrada possíveis em busca da Soraya, a luz daquela cidade que me guiou a casa.
Neste aspecto, os polacos estão definitivamente uns passos à nossa frente. Andamos nós, com ideias seculares, a guiar o nosso rumo pelo Farol de Leça quando na realidade um mega- outdoor com uma top model podia perfeitamente servir de orientador para os nossos perdidos!Viva a santa Soraya, protectora dos forasteiros
Momento publicitário
Ainda no rescaldo das inesquecíveis férias na Polónia(obrigado amigo Nuno Bezelga por toda a hospitalidade), quero partilhar com vocês um excelente prato que tive o prazer de experimentar.
A Jurek é uma sopa tradicional polaca constituída por um mega-pão moldado em forma de mini-caldeirão. Depois de comermos o pequeno tacho, descobrirmos no seu interior um caldo com pequenos nacos de carne, verdura e alguns condimentos. O truque para que a nossa Jurek fique mais suculenta passa por molharmos o miolo do pão, que se encontra no seu interior, e mistura-lo com o caldo, fazendo assim uma espécie de sopa sólida.
Sou apologista que conhecer um novo país é também sinónimo de entrarmos sem receio nos seus costumes culinários. Apesar de ser um pouco condimentada, a comida polaca tem traços de gosto e de requinte, sofrendo influências de vários países que estão à sua volta. Além da Jurek, recomendo também o Strogonoff de carne. É uma espécie de tapas de carne de vaca, envoltas num molho extremamente acetinado. Acompanhado por batatas assados, posso dizer que é um belo jantar!
Mudando de assunto, na Polónia é muito dificil encontrarmos, no cidadão comum, alguém que fale fluentemente inglês. Deste modo, para nos desenrascarmos, é necessário aprender algumas palavras básicas para podermos comunicar. É claro que não podemos deixar de parte a destreza na linguagem gestual. Aqui ficam, de seguida,algumas palavras que aprendi. Peço que não levem a sério a forma como estão escritas, pois apenas vou ter interpretar a sua sonoridade:
Djin Dobre- Bom Dia;
Dobi Sagna- Adeus;
Pro Proche- Por Favor;
Jancuia- Obrigado;
Jancuia Varzo- Muito Obrigado;
Tak-Sim;
Niet- Não;
Levo- Esquerda;
Pravo- Direita;
Prosto- Em Frente;
Rasunia- Percebi;
Niet Rasunia- Não percebi;
Iac Movie Maoe Popolsko- Eu falo um pouco de polaco;
Perón- Linha
Maoe- Pouco
Varzo- Muito
Outros aspectos interessantes prendem-se com a forma como lemos os nomes das cidades.
Kraków lê-se "Krakuf"
Lodz lê-se "Utche"
Wroclaw lê-se "Brotssuava"
Nysa lê-se "Nissa"
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