Domingo, 14 de Fevereiro de 2010
Coiote

 

O Coiote é arrumador de automóveis. Aqueles que me são mais próximos sabem que eu sou ligeiramente preconceituoso. “Pronto, lá está ali aquele bimbas a ganhar uns trocos para depois ir para ali dar mais um chuto de coca”. Enfim, por mim tudo bem desde que o Porto ganhe. Mas Coiote tem algo de especial, que me chamou a atenção enquanto passeava com o meu bólide pelo centro de Gaia.
Vestido com um fatinho de ganga à década passada, Coiote “trabalha” num parque de estacionamento municipal. Até ai tudo normal mas o dito cujo anda sempre com uma folha A4 na mão. No outro dia, após estacionar o carro, reparei que tinha o horário de saída de todos os clientes registado. Deste modo pode criar segundas e terceiras filas de forma organizada, ultrapassando a capacidade do parque. Logo fiquei a pensar “este tipo deve ser inteligente”. De forma mais detalhada, vi outro pormenor que me chamou a atenção: o papel era quadriculado, o que traduz desde já uma opção tomada a partir das suas capacidades cognitivas. Outro tipo pegaria num papel qualquer.
No outro dia decidi colocá-lo ainda mais à prova. Para começar ofereci-lhe um cigarro de chocolate, os conhecidos “Black Devil”. E comecei a provoca-lo, para fazer se estava familiarizado com a língua inglesa. “Blaque Dévil”. Disse direitinho. Fiquei espantado e, em português mais coloquial, comecei a fazer-lhe perguntas corriqueiras usando terminologias complicadas. Às perguntas sobre marcas de cigarro falou em “definitivos”, “adocicado” e “saboroso”. E, ao contrário de outros doutores, não se enganou nos tempos verbais. Até nas concordâncias no plural.
Lá caminhei rumo ao meu posto de trabalho, não sem antes pensar no que se tinha passado. Tirei conclusões. De facto, há tipos licenciados que evidenciam estupidez nos pormenores quotidianos. Bem dizia o Pessoa que Cristo não percebia nada de finanças nem tinha biblioteca. Foi com este espírito que o abordei à saída.
“O pá, acho que és um tipo esperto. Devias pensar na tua vida, pois podias fazer outra coisa que não arrumar carros”. Coiote ficou um pouco espantado mas sorriu. Falou-me de vicissitudes da vida, do destino, de circunstâncias que não tinham corrido conforme o previsto. Na curta conversa expliquei-lhe que existe uma série de colectividades nas redondezas, e que lhe poderiam indicar cursos ou actividades que poderia frequentar. Seria um primeiro passo. Coiote pode render mais.
Um dia conhecia um tipo chamado Diogo Luz. Foi Vice-Presidente da Câmara de Gaia. Dizia-me insistentemente “Não podemos ser santos mas sempre que o mundo passar por nós podemos dar-lhe um empurrãozinho”. Acreditem, ele passa imensas vezes por nós, exclamei interiormente no regresso a casa, isto enquanto observava duas sujeitas deleitadas com o seu filmezinho diário.


publicado por Gil Nunes às 23:21
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Sexta-feira, 20 de Novembro de 2009
A mentalidade "Scolari" do sistema laboral

 

Hoje recebi um mail que confirmou algo que já tinha lido há uns tempos. Os suecos reduziram a carga horária dos seus trabalhadores, deixando mais tempo para que cada um possa desfrutar da sua vida. Porque é disso que se trata: vida. Segundo as novas contas cada sueco trabalha apenas 5,5 horas por dia mas às contas disso a produtividade do país aumentou em 20%.
É uma medida prática e eficiente. Sem mais alongas. Eu acho que no nosso sistema laboral existe muito a mentalidade “Scolari” com os resultados que se sabem. A necessidade de se criar um espírito de família, de superação e de entrega aos valores da empresa acaba por ser um verdadeiro guindaste açambarcador da liberdade. Mas será que o trabalhador já não sabe disso?
Se não sabe, devia saber. Tudo na vida funciona à base do grupo, sendo necessárias as compensações ao outro em caso de falha. Na altura do mérito também o galardão é distribuido por todos aqueles contribuiram. Acho lógico e linear. A mentalidade “scolariana”, para mim, não passa de mais um dos “filmezinhos” da nossa sociedade.
Tenho o direito de escolher aqueles com quem me relaciono. Uma das coisas que mais confusão me faz são os chamados “fins-de-semana da empresa”. Na minha óptica temos o dever de promovermos um relacionamento agradável e cordial com os colegas de trabalho e o direito de escolhermos com quem pretendemos passar tempo. Por isso, os ditos “fins-de-semana” podem ser promovidos, mas a sua adesão facultativa. Mais do que qualquer trabalho ou produtividade, interessa é a felicidade do indivíduo e o aproveitamento da sua vida. Para tal, o desfrute em pleno do tempo livre é, para mim, um direito absolutamente inalienável. Passa o tempo com quem quiser,aproveitando de forma intensa todos os minutos.
Tal como noutras questões, a mentalidade nórdica faz falta a um pais por vezes demasiado emocional. Será que as pessoas são realmente felizes? Eu acho que não. Pugno por uma sociedade mais realizada, com espírito de trabalho responsável e, acima de tudo, com carácter.


publicado por Gil Nunes às 15:00
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